Saúde do homem: autocuidado vai além do exame de próstata

Rastreamento do câncer de próstata é fundamental, mas acompanhamento médico também é importante para prevenir e tratar outras doenças. 

Os homens, em geral, são mais descuidados com sua própria saúde do que as mulheres. Por uma questão cultural, muitos acreditam que buscar ajuda é um sinal de fragilidade, e acabam só procurando um profissional de saúde quando acontece algum tipo de emergência ou já estão com doenças avançadas. Acompanhamento de rotina, então, é algo que muitas vezes nem passa pela cabeça deles. 

Para se ter uma ideia, os homens vivem, em média, 7 anos a menos que as mulheres no Brasil, segundo a estimativa de vida calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É claro que existem vários fatores envolvidos nesse número, mas certamente a demora no diagnóstico e tratamento de doenças tem seu peso. 

Em entrevista ao podcast Saúde sem Tabu em maio de 2021, o urologista José Carlos Truzzi comentou que o homem sempre foi visto como provedor do lar, o que trouxe a ideia de que eles não poderiam ficar doentes ou vulneráveis. “A doença em si mostra uma fragilidade, lógico que não é uma fragilidade proposital, ninguém quer ficar doente, mas a imagem dá a sensação de que a pessoa não é tão forte quanto gostaria de ser. Isso fez com que muitos homens não aceitassem a condição de ter que ir ao médico com frequência, o que é completamente absurdo, porque a mulher vai de forma regular a atendimentos médicos”, disse o médico na ocasião. 

No mês de novembro, a campanha Novembro Azul reforça a importância do cuidado com a saúde e do rastreamento do câncer de próstata, que é essencial. Mas os homens não podem se esquecer do autocuidado em relação a outros aspectos de saúde e da importância de ter um acompanhamento desde cedo. 

CÂNCER DE PRÓSTATA

O câncer de próstata é o segundo câncer mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma, e também é o segundo que mais mata. No entanto, a imensa maioria dos casos pode ser curada quando há o diagnóstico precoce. O problema é que muitos homens não têm o hábito de ir ao urologista. E como esse câncer quase sempre é assintomático em fases iniciais, eles não desconfiam que podem estar doentes e, portanto, não procuram um médico. 

“Além disso, existem os tabus relacionados ao exame de toque retal, que auxilia no diagnóstico dessa doença; e aquele relacionado ao tratamento, que relaciona a cirurgia da retirada da próstata à incontinência urinária (incapacidade de controlar a urina) e à disfunção erétil (impotência sexual). Para mudar isso, precisamos conscientizar a população, desmistificando algumas informações que hoje em dia são imprecisas”, afirma o dr. Marcelo Wroclawski, urologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo (SBU-SP). 

A recomendação é iniciar o acompanhamento com urologista para o rastreamento do câncer de próstata a partir dos 50 anos para pacientes sem riscos relacionados e 45 anos para quem está no grupo de risco, como homens negros ou com parentes de primeiro grau que tiveram câncer de próstata. Os exames para rastrear a doença são o exame de toque retal e o exame de sangue para avaliar a dosagem do PSA (antígeno prostático específico), que mostra se há alguma alteração na próstata, seja benigna ou maligna. 

OUTRAS DOENÇAS COMUNS EM HOMENS

Primeiramente, o câncer não é a única doença que acomete a próstata. “Além do câncer, a partir dos 40 anos a próstata começa a crescer e esse crescimento benigno, conhecido como hiperplasia prostática benigna, pode provocar sintomas urinários, como jato da urina fraco e/ou entrecortados, necessidade de acordar à noite para urinar, diminuição do intervalo entre uma micção e outra, necessidade de sair correndo para urinar, entre outros. Outra alteração que pode acometer a próstata é uma infecção chamada prostatite. Neste caso, o homem apresenta agudamente piora do padrão urinário, além de evoluir com febre e sintomas sistêmicos, como cansaço e mal-estar”, explica o dr. Wroclawski.

O homem também está suscetível a outros tipos de cânceres urológicos, como câncer de pênisbexiga e rim, que também são mais comuns depois dos 50 anos, e o câncer de testículo, que é mais comum em jovens. No caso do câncer de pênis, por exemplo, um dos fatores de risco é a má higiene íntima, um cuidado de saúde simples do qual pouco se fala, mas que é muito importante manter para evitar desde infecções locais até doenças mais graves como essa. 

Ainda em relação à saúde urológica, outro problema frequente é o cálculo renal, conhecido como pedra nos rins, que muitas vezes ocorre devido à ausência do hábito de beber água, e a bexiga hiperativa, condição que faz a pessoa precisar correr para o banheiro para urinar e que pode levar à incontinência urinária. Homens que se submetem à prostatectomia (cirurgia de retirada da próstata para tratamento do câncer de próstata) também podem desenvolver algum grau de incontinência. A perda involuntária de urina pode prejudicar muito a qualidade de vida, mas acaba sendo motivo de vergonha para muitos homens que não buscam ajuda, o que dificulta o diagnóstico e tratamento da condição. Para lidar melhor com ela, há a opção de utilizar produtos como roupas íntimas ou absorventes masculinos específicos para a incontinência, que neutralizam odores e absorvem rapidamente a urina, reduzindo o risco de infecções na região. 

Isso tudo sem falar nas doenças relacionadas à saúde sexual, como a disfunção erétil e as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), que ainda são um tabu para muita gente. Vale lembrar que as ISTs são facilmente preveníveis com o uso de camisinha. 

Além disso, doenças crônicas e/ou cardiovasculares, como diabetes e hipertensão, que são muito comuns no Brasil, também merecem atenção. Sem o devido tratamento, esse tipo de doença, que a princípio pode não causar sintomas, pode levar a eventos cardiovasculares graves, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC)

CUIDADOS COM A SAÚDE DE MODO GERAL 

Ter um acompanhamento médico e realizar, quando indicado, exames é fundamental para acompanhar índices de saúde importantes e diagnosticar determinadas doenças de forma precoce. Problemas como açúcar elevado no sangue e colesterol alto, por exemplo, não costumam causar sintomas, mas são facilmente identificados em um exame de sangue simples, de forma que é possível tomar medidas para controlar a situação antes que ela se agrave.

“Tão importante quanto a avaliação prostática, muitas vezes a visita ao consultório do urologista é a porta de entrada do homem no sistema de saúde. Não raro, acabamos diagnosticando casos de hipertensão arterial, diabetes ou outras doenças com alta prevalência e encaminhando para o especialista”, destaca o médico da SBU.

Mas não é preciso esperar tanto tempo para iniciar esse acompanhamento. “Na infância, meninos e meninas passam no pediatra. Quando chega a adolescência, a menina adolescente passa a ser acompanhada por um ginecologista. E aquele menino que entrou na adolescência deixa de fazer o acompanhamento. Isso é errado. É importante também que o adolescente do sexo masculino passe em atendimento, porque existem algumas doenças que ocorrem na adolescência e que vão trazer consequências na idade adulta. Um exemplo comum, por exemplo, é o varicocele, que são varizes em volta do testiculo que podem prejudicar a fertilidade deles”, afirmou o dr. Truzzi no episódio do Saúde sem Tabu sobre saúde masculina.

“Quando um adolescente passa para fazer uma avaliação periódica com urologista, é feita uma avaliação da saúde de modo geral e não apenas do trato urinário”, completou ele. 

Cuidados que promovem uma maior longevidade e qualidade de vida incluem manter uma alimentação equilibrada, a prática de exercícios físicos, controlar o consumo de álcool e, nos casos de quem fuma, largar o cigarro. Deixar de fumar não é nada fácil, mas a medida traz grandes benefícios para a saúde de maneira geral (não somente para a saúde respiratória). Ainda há outras medidas simples, conforme mencionamos acima, como beber água todos os dias (a recomendação é cerca de 2 litros) e usar preservativo para prevenir a ocorrência de IST.

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